fonte
Já faz tempo que eu não sei o que é ser só para mim. Escrever em outra língua hoje parece uma tortura inacabável perdida no fingimento de um amor que não se importa sequer a aprender o vocabulário mais básico. Ela continua sendo tempestade. Estranhamente, involuntariamente adorável. Hoje já não sei onde estou.
Se sou eu a pessoa que mergulha no lago raso, se eu que busco as nuvens cinzas num dia de verão, me sinto a terra que espera ser molhada, apenas para mais uma vez ser traída pela mentira da fertiidade. Afogada, ainda que viva. Onde mais a chuva cairia se não tivessem o solo para violentar?
Eu não consigo alcançá-la, sou imóvel, uma versão morta-viva da pessoa pela qual alguém talvez se apaixonaria. Hoje apenas aguardo a presença, que chega sempre agressiva. Toma o que quer, me deixa sem nada, apenas com aquela sensação de propósito. Nada em mim mais existe na seca. Nada em mim é seco.
Me rego de lágrimas em sua ausência, anseio pela próxima tempestade. A autonomia agora é tóxica, escura, sombria. Caminho lentamente até a próxima fonte de água, que já não chega. Eu sou a fonte de água, eu faço a nuvem.
Nos momentos mais quentes, mais afobados, tiro de mim para dar a ela. Admiro o céu que se escurece e me ameaça. Grita, esperneia, atinge com golpes quase fatais - quase. Eu sei que aquilo que vem, na verdade já foi. Eu sou a fonte, eu trago a tempestade.
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