invicta
Em tudo, precisamos sempre estar em posição de perda ou de vitória. Alguns podem dizer que não se sentem assim, possivelmente porque nasceram ganhando. Eu, que nasci perdendo, aprendi rápido a calcular minhas chances para garantir minha vitória. Se não tenho certeza que vou sair por cima, nem entro, faço uma piada, torno tudo irônico, me tornei expert no blasé.
Todos que me conhecem me descrevem como alguém especial, diferente, novo. Esse é meu truque para sair ganhando: se eu sempre conheço mais do que todos, penso nas referências mais obscuras de todos, ninguém nunca vai poder me esquecer. Talvez eu até seja esquecível, mas me torno esse furcaão que bagunça todos e que some rápido como forma de mascarar minha sensibilidade e nostalgia. A verdade é que eu sempre amo mais, sinto mais, lembro mais e, assim, sempre saio perdendo.
Nos livros de romance, é muito comum vermos um protagonista inocente, inexperiente, que tem a vida mudada por uma protagonista completamente louca, diferente de todas as outras pessoas, que entende perfeitamente a loucura do protagonista inocente que sempre se sentiu um peixe fora d’água. Essa protagonista louca sempre é extrovertida, culta, especial, nova. Nos romances da minha vida, eu sempre fui a louca.
Depois de anos vivendo num mundo onde ninguém me conhecia por completo, onde eu era o mistério a ser desvendado e que todos se deliciavam ao tentar, fui cuspida numa nova realidade. Aos 25 anos, tenho poucas aventuras amorosas, ainda menos experiências sexuais, nenhuma certeza de quem eu sou, do que eu quero e nem com quem quero descobrir. Foi nessa nova dinâmica do universo que encontrei alguém novo, especial, diferente.
Ela me lembra de mim há anos atrás, antes de me esforçar tanto para encaixar numa ideia de casal perfeito. Ela sim, passou pela minha vida feito um furacão. Rápido, importante, impossível ignorar ou diminuir o impacto que ela teve, embora ela se sinta sempre descartável, assim como eu sempre me senti. Ela não me ama como eu amo ela, ela sequer pensa em mim como eu penso nela. Pela primeira vez na vida encontro-me deste lado da gangorra. Ela que se sente perdendo e se esforça para ganhar e hoje eu entendo todos aqueles que eu usei e joguei fora e que, assim como eu, estavam loucos para sair perdendo.
A dor do amor é gostosa quando a causa é profissional. Alguém que ama com destreza, que sabe o que faz quando te ilude. Que delícia é sofrer por quem precisa ser amada em excesso.
Ela me mostrou tudo que eu já mostrei para tantos. Ouço toda a discografia da Liniker e só consigo pensar nela, nos mesmos trechos que antes me lembravam de mim mesma. Gostava de imaginar com dó os homens que magoei ouvindo as palavras “sei que eu tenho o dom de dar mergulho com o olhar” e lembrar de mim, que sei que desconcerto qualquer um. Não ela, ela que me desconcerta, ou desconcertava. Ela, assim como eu, passou como um vulto, efêmera, leve, um sonho.
E tudo nela é lindo. A vida errática a comunicação inconstante e a certeza de que não sou prioridade. Ainda assim resta o mistério: se não sou eu quem ela ama, por que me beija com tanta vontade? O mundo está cheio de pessoas confusas, que acham que devem querer uma coisa e querem outra, mas não é o caso dela, ela tem certeza de tudo, até das meias vontades.
Ela tem a confiança de demonstrar tudo que quer e o quanto quer sem medo de sair perdendo, enquanto eu preciso garantir que toda vontade é camuflada por uma piada qualquer. Pelo menos assim, sempre a fiz rir e consegui entender o prazer que os outros que eu usei sentiam em ver meu sorriso. Essa sensação, de querer mais, de se jogar do penhasco sem nenhuma esperança de ser salva, de fazer o papel de idiota, é nova para mim e é uma delícia. Ela é uma delícia.
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