suéter

 Elas não sabem, mas teve motivo. Se em maio eu falava de agosto, escrevia sobre o tal suéter de caxemir que já estava perdido, elas não sabem porque em setembro eu comprei cinco suéteres diferentes até achar ele. Eu não sabia que o encontrei em agosto, o tal agosto. 


Março passou e com ele se foi meu suéter, meu charme eterno. Era tiro e queda: eu só tinha que usar aquele suéter, um batom vermelho e pronto, recebia elogios na certa. Agora ele estava perdido, a validação estava perdida. 


Demorei para aceitar, nos primeiros meses revirei a casa, olhei na sala, no quarto, até no banheiro. Invadi a casa da minha irmã às pressas numa madrugada. Eu não podia chegar no novo emprego sem o suéter, no primeiro encontro, na primeira festa com um grupo novo de amigos. Sem aquele suéter sou nua. 


Chegou maio e eu entendi que ele não voltaria. Alguma coisa sobre a história da boneca que a minha mãe perdeu quando “virou moça” e como objetos com memória afetiva também morrem ressoou comigo. Entendi que aquela capa protetora estava, enfim, finada. Ainda assim, pensava nele, fantasiava sobre ele. Nos momentos de glória que desenhava para mim mesma, eu sempre o vestia. 


Chegou agosto e, graças ao aquecimento global, eu já nem pensava no tal suéter. Estava quente, o sol me queimava e eu suava como nunca. Em agosto eu vivia, o suor esfumaçava o vidro do carro, bebia litros de água em uma hora. Eu nunca usei tão pouca roupa quanto em agosto. 


Ainda assim, em setembro, com medo de um novo inverno, lá fui em busca de um novo suéter. Depois de fazer as pazes com a realidade do fim, de ser confrontada com um fim necessário que não chegou, finalmente busquei e aceitei o novo começo. 


Não foi fácil, experimentei dezenas, gastei mais do que podia, mas finalmente ele chegou. Numa promoção qualquer de uma loja que já tem uma memória afetiva, finalmente eu encontrei o tal suéter. Demorou, passei várias vezes pelo mesmo até finalmente enxergar nele todo esse potencial.


O frenesí foi geral. A esse ponto todos ao meu redor sabiam da minha busca pelo suéter de caxemir perfeito, a gola perfeita que prende e agarra no pescoço mas não sufoca, nunca é sufocante com ele. O conforto que não entra na rotina, que não suja, não gasta, não enjoa. Não podia ser egoísta. O universo foi tão generoso que em cinco meses me tirou e me devolveu o suéter perfeito. Precisei compartilhar. Rapidamente me tornei famosa nesse meu novo círculo pelo tal suéter perfeito. 


Hoje, em janeiro, ainda pego uma ou outra usando sua versão do meu suéter, que eu descobri. Elas desfrutam da minha descoberta, mas não sabem porque eu procurei. 

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