água
Do alto do meu pedestal, eu encaro a correnteza. Admiro a luz refletindo nas pequenas ondas que desenham o corpo d’água e me chamam para dentro, para fundo. O fascínio inevtável das águas profundas, escuras, quietas. Daqui, vejo tudo, a luz, os peixes, até mesmo a areia do fundo. Viro levemente e já não é a mesma coisa, escuro, agressivo, não há nada para ver, tudo se esconde.
Eu sei onde estou entrando, eu reconheci todo o espaço antes mesmo de ousar me retirar do meu pedestal. Vi o fundo, mergulhei com cautela. A água cristalina que encanta, mas não assusta. De quem não dá mergulho nenhum, nem com olhar. Um contar gotas que ressoa como uma canção animada, mas que não enche o mais raso dos copos.
Impossível ficar aqui, o fundo chama. Não há som, não há luz, não há beleza que meus olhos alcancem, apenas o encanto daquilo que não se entende e nunca vai entender. Aquela água nasceu para morrer sozinha, intocada, incompreendida. Quem sou eu se não mais uma que se atreve a tentar?
Daqui, no mar calmo de uma praia qualquer, com tudo à flor da pele, tudo à mostra, não consigo tirar meus olhos do vazio concreto do rio. Ele corre de um lado para o outro, sempre contrário às ondas do meu mar. Foge por temer a mais singela gota salgada. E eu, intacta na água que me dá pé, já não consigo chegar.
De lá do meu pedestal, a decisão era única. Olho para cima, ainda tão proximo, o salto foi tão curto, a sedução foi tão óbvia. Não há como chegar. Agora que eu toquei o mar, o rio também foge de mim.
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