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27 de março de 2025. Um ano sem mar, um ano sem primavera. Finalmente. Aprimavera chega, vagarosa como nunca, numa antecipação que nunca antes foi sentida. Aquele mar que me lavou hoje me agride. Acordo semanas depois ainda assustada com o barulho das ondas. Caio, me afogo, saio ofegante, fugida, mas sem nenhum arranhão. Onde estão as marcas daquilo que tanto me machucou?
No aguardo incessante da primeira que demorou 730 dias para chegar, contesto minha ânsia de fugir daquilo que é belo. Minha escolha estúpida pelo inverno doentio e cinza como tentativa de replicar o vazio que senti, há mais de 365 dias. Lembro-me da sede do começo, quando tudo era competição, inveja, jogo, ciúmes. Os roxos brotavam como flores que desabroxavam do amor mais tóxico possível. As cores cada vez mais vibrantes me deixavam perplexa. Ora fúcsia, ora verde, ora azul, ora amarelo.
De tempos em tempos ainda anseio por toda aquela intensidade de quem dói o mesmo tanto que ri. Hoje já sei que devo temer tamanha beleza. Reencontros brotam para todo o lado e busco involuntariamente pelo medo que já senti. Agora susbtituído pela pura confusão de saber que meus olhos grandes e meu rosto juvenil já não passam de aparência. Aguardo, hoje, ansiosamente pelas rugas de dentro aparecerem por fora.
Se saltei dos 18 aos 25, os 26 chegam, com a primavera, vagarosamente. Depois de sol, de neve, mar, rio, praia, montanha. Finalmente me sinto completando a tal volta ao sol.
Ainda assim, nada me tira a ansiedade do futuro. Um tédio constante do novo e uma sede insaciável do antigo, do comum, do familiar. Procuro, mas já não me marca. Faz uma semana que senti pela última vez a mordida dura de quem não me conhece. Apenas hoje encontro pelo meu corpo as cicatrizes da aventura efêmera que já perdura por oito meses.
Ainda sinto a mesma vontade infantil de contar para todos ao meu redor cada detalhe do que aconteceu, sempre. Já aprendi o valor do silêncio, apenas não aprendi a tê-lo para mim.
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