vai
Se tudo passa, eu quero também ser apenas um vulto. Cansei de esperar pela eternidade. Já tive o eterno e nele encontrei a tortura. Não quero mais conciliar: o bom, o ruim, o mundano. Quero apenas o especial.
Se tudo que é bom dura pouco, por favor vá embora. Já deu o tempo de ser bom, quero continuar colecionando memórias.
Uma vez me disseram que o presente é eterno, enquanto o futuro é eternamente morto e o passado nunca para de crescer. Meu amor fica sempre na memória. Já não tenho apego ao presente. Um natimorto que traz consigo a certeza daquilo que ocorre, ocorreu e ocorrerá. Gosto tanto de morar na dúvida que já não quero ter margens.
Na vida de todos ao meu redor quero ser apenas um borrão. O batom espalhado até o queixo, o rímel escorrido até as olheiras, uma pequena lágrima que desmancha tudo que é certo ao enfrentar a certeza do adeus. Preciso ser a zona cinzenta.
Não me leve a mal se sumir de repente, gosto mais de ser efêmera. Não abro mão do poder de ir embora quando quiser, mas também preciso da segurança de existir eternamente na saudade. Minha vida é melhor naquela conversa de bar, na nostalgia de uma época passada alguém fala “lembra dela? O que será que aconteceu com ela?”. Moro na exposição excessiva que confunde todos sobre quem eu sou.
Não quero causar remorso nem mágoa, apenas saudade. Quero que me toquem e me sintam como areia, etérea. Que minha existência passe como a correnteza que faz nascer e que mata, mas sempre passa.
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