construção

 Existem sentimentos que eu aprendi, que eu procuro em todos. 


Eu lembro da primeira vez que eu consegui irritá-lo tanto que a única reação que recebi foi o desviar de olhares e o contrair do seu maxilar. Faz 9 anos que vivi isso pela primeira vez, mas toda vez que vejo de novo, não posso evitar me apaixonar. 


Já é repetitivo até para mim mesma o quanto eu me importo em sentir tantas vezes os dedos da pessoa que eu amo tocarem nos meus. O velho carinho de dedo. Não dá, 8 anos depois e eu ainda tenho medo toda vez que ele chega porque sei onde vou parar. 


Relendo os relatos daquela época, sou forçada a lembrar do pior de todos: ele explorava o meu corpo como se estivesse descobrindo um novo elemento da natureza. Apenas para arrumar tudo como estava antes. Há 8 anos eu disse que me sentia algo que ele pegou emprestado e devolveu em perfeita condição. Fico pensando onde isso se encaixa hoje. Eu levanto nua enquanto ele busca pela minha roupa jogada pelo quarto. Quando saio de casa, ela dobra minhas roupas e lava minha louça, compra puxadores novos para o armário que quebramos na noite anterior. 


Antes de terminar, eu sabia que não tinha mais futuro. Deixava ele entrar onde quisesse, como sempre, minha roupa amassada, meu cabelo bagunçado, mas agora o resultado dos seus crimes já não era problema dele. Eu sabia disso, eu percebia isso, mas não queria admitir. 


Ele me trazia para casa toda noite e fazia questão de me deixar escolher o lugar para parar o carro, me ajudava a arrumar meu cabelo, minha roupa, perguntava no dia seguinte se tudo estava certo. Eles nunca me perguntaram se as marcas doíam, mas ele segurava minha mão quando andava na rua. 

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