alma

 Hoje não faz sol. As águas de março estão trabalhando e o sol não queima, mas dói os olhos. Hoje não faz sol mas minha vista continua cansada e minha alma ainda não foi lavada.

Opostos se atraem, e como se atraem. Chamas são intensas e viciantes. Às vezes me sinto heroína. Viciante, vitimista, palavras são sempre tão dúbias. Frases escritas não dizem um terço de um toque e um sussurro. Olhares que não podem mais existir.

Palavras soltas, frases ditas pela metade e coincidências que levaram ao final trágico e necessário. Não quero ficar presa num final feliz aos 25 anos.

Se sou heroína, quero ter minha saga. Cansei de ser viciante. Quero lutar, conquistar, agora quero sofrer. Preciso do meu arco de redenção, viver uma paixão. Não tenho energias para um amor avassalador. Minha alma continua esperando o banho de chuva que não tomei. Minhas vontades não são suficientes, é preciso uma cooperação do universo.

Fecho minhas cortinas para apagar o sol, que já não me queima como em fevereiro, mas ainda machuca meus olhos. Olhares sempre tão fortes que as marcas ainda acontecem, mesmo que ninguém mais veja. Eu já não quero as marcas. Minha pele não pode mais ser queimada, preciso me proteger logo. Quero olhar para o sol, mas não aguento mais esse calor, por isso nasci no outono. 

Como fugir desse limbo insuportável? Ficar em casa até as chuvas acabarem e o sol não mais me queimar. Qual a solução se meu ano tem dois verões? Preciso lavar minha alma.

Quero que tudo vá por água abaixo junto com esse verão. Felizmente terei dois verões. Preciso sentir o amor escoando por meus dados feito areia, mas não quero ir à praia. Não posso me expor a esse sol, não quero marcas.

Me resta olhar para a mesma linda paisagem todos os dias. Minha janela dá para um sonho, mas nele não tem mar. A água salgada precisa me preencher o quanto antes. Preciso lavar minha alma.

Posso esperar o inverno. Correr para o mar mais próximo e me livrar disso. Mas meu inverno ainda não está livre. Só estarei livre no meu segundo outono. Esse ano não vai ter primavera.