vinho vs. cerveja

 Todo sábado tenho que ir às aulas do mestrado. Digo que tenho porque sei que nem sempre as aulas serão úteis, mas tenho que estar de corpo presente. Acordo cedo, coloco qualquer roupa que não seja muito semelhante a um pijama, e me dirijo à faculdade. De carro ou de metrô? Apenas o meu sono e a caridade do meu pai dirão.


Tenho minha primeira aula, almoço, passo algum tempo ociosa e vou para a segunda aula, tudo isso num estado de pseudoconsciência que apenas os viciados em estudo conhecem. Continuo cansada, meu maior pensamento continua sendo como minha roupa parece um pijama, mas ainda assim saio da aula com páginas e páginas escritas de alguma teoria sofisticada e cinco ideias para artigos que jamais serão escritos. Se estiver com meu computador então, saio com uma coletânea das 20 coisas mais engraçadas que vi na internet do sábado de manhã - que são sempre péssimas comparadas com a sexta à noite.


Quando saio do mestrado, tenho algumas horas antes de viver a vida social de uma jovem de 25 anos. Todo sábado saio para algum lugar, mas meu destino nunca é certo. Afinal, como toda boa acadêmica, minha vida social não é das melhores. A certeza é que todo sábado é dia de cerveja. 


Eu não gosto de cerveja, mas beber faz parte de ser jovem e cerveja faz parte de ser vazio. Minhas manhãs de sábado são densas demais para sair e tomar um bom vinho, eu preciso da cerveja. Saio com algum amigo, vamos para algum lugar, sentamos em algum banco e tomamos cerveja. Conhecemos alguém nesse meio tempo que também está ali para tomar uma cerveja e nisso acabo meu sábado à noite.


Não tente sequer me perguntar qual cerveja eu tomo, a resposta é simples: aquela que tiver e que não for amarga. Mesmo quem ama cerveja não seria capaz de elaborar mais do que isso num sábado à noite. Se tenho mais dinheiro, bebo corona, se tenho menos, bebo Skol. Não sou complicada com cervejas. 


A semana que me leva até o sábado é sempre oposta. Passo dias num trabalho que me satisfaz e me deixa livre na medida certa. Poucas horas de trabalho, com nenhuma pressão. Essa é a beleza de ser concursada. Tudo isso tratando de temas extremamente complexos com os quais eu só preciso lidar se estiver disposta. Eu consigo levar a semana toda sem pensar. 


Ao final de cada dia de trabalho, vejo um tempo livre que é meu. Meus sábados à noite são da sociedade e neles eu preciso preencher o que é esperado de uma jovem de 25 anos. Mas minhas segundas, terças, quartas, quintas e talvez até sextas são completamente livres. O domingo é desimportante em qualquer idade.


Em uma dessas noites de semana, se quiser beber, não vou beber cerveja, vou beber vinho, Estou descansada o suficiente, não preciso ser vazia. Ninguém consegue ser vazio tomando um bom vinho. 


Pode soar elitista, mas existe uma qualidade espiritual na apreciação do vinho. Sem surpresa nenhuma, os gregos estavam certos e a taça de vinho é um ritual necessário para uma boa vida. 


É impossível não sentir nada ao tomar um vinho, não ter opiniões. Ninguém vai longe sem antes decidir pelo menos se prefere seco ou suave, branco, tinto ou rosé, um milhão de variáveis que, nesse caso, são inescapáveis.


O vinho descansa minha alma adulta enquanto a cerveja vive meu corpo jovem. Os 25 anos são realmente um paradoxo irritante para nós viciados em autorreflexão. 

Comments

Popular Posts