carinho de dedo

 A primeira vez que pensei em você, pensei nos seus dedos. Quando tinha medo de escrever e ser honesta comigo mesma sobre meus sentimentos, desenhei seus dedos. Você conhece esse desenho. Olhou para ele por anos na parede do meu quarto, viu ele nas minhas postagens. Você sabe até onde ele está publicado, onde estão meus desenhos. Você sabe onde está tudo.

Fomos ao cinema quando me apaixonei por você. Vimos um filme qualquer que eu não entendi e fiquei olhando para você o tempo todo. Senti seus dedos nos meus, senti um carinho de dedo. Já havíamos nos sentido de quase todas as formas possíveis até aquele momento, mas ali conheci seus dedos. Dos seus dedos fui para sua respiração, sua voz, seu sorriso. Ali no cinema te conheci e me apaixonei. 


Ontem saí com outra pessoa. A primeira vez que me sinto me apaixonando. Você sabe que eu sou fácil de cair nessa cilada. Você se apaixona na presença, eu na ausência. Ele fez quase tudo que você já fez. Redescobriu caminhos que você percorreu e abriu rotas alternativas. Não teve frio na barriga. Não como era com você, um enjôo, uma angústia, uma ânsia de se ter. Ainda não tive isso. Somos diferentes, crescemos. Ele me levava para casa quando, foi pouco tempo até trocar de marcha, repousou a mão em minha coxa e eu, sem pensar, repousei a minha em cima da sua. 


E foi ali que ele voltou. Conheci um novo carinho de dedo. Nossas mãos se entrelaçaram de forma afetuosa e leve. Daquele jeito que você me ganhou. Não estávamos no cinema. Dos dedos agora eu também percorri um novo caminho. Fui para a boca, os olhos, os braços. Cada viagem é diferente, hoje eu sei. 


Hoje fomos ao cinema. Num ato falho ele estava ali. O bom e velho carinho de dedo. Você precisou sair e se não fosse por isso, não sei o que seria de mim. Assistimos duas continuações. Estamos em qual parte da nossa saga? Passei dois filmes olhando para você. Senti seus dedos. Busquei sua respiração, sua voz e seu sorriso. Nada estava ali. Queria sentir outra mão. Meu amor terminou como começou.


Amor e atração não são sinônimos, mas não queremos um sem o outro. Algumas coisas são automáticas, mas precisam acontecer pela última vez. Quando nos tocamos, sentimos faíscas mas eu já estou cansada das cinzas que ficam para trás.


Passamos o dia juntos pensando em outras pessoas. Querendo sentir outros dedos. Não há mais nada para queimar aqui, o fogo está se apagando e ficaremos no escuro em breve. Sempre fomos uma bomba relógio prestes a implodir.

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