azul
Tenho buscado flores azuis por todo lado.
Quando era pequena, sempre dizia que minha cor favorita era azul. Não sei se entendia o significado disso, apenas sabia que era “cor de menino” e sempre gostei de ser subversiva. Cresci, aprendi inglês e quis me distanciar do azul.
Passei minha adolescência e juventude tentando conciliar toda a minha tristeza com a cor amarela. Tinha medo do azul, não queria ser azul. Achei que o amarelo me servia, grande, chamativo, diferente, indescritível. Frio ou quente? Os debates são infinitos, assim como suas tonalidades.
A realidade é que o amarelo também me representa. Expansivo, inusitado, tudo no amarelo me representa. Talvez sua alegria seja o mais distante de mim. O azul é profundo, triste, calmo. Tudo isso me representa. A doçura do azul está distante de mim?
Um pensamento simples, se estou dividida entre duas cores primárias, por que não ser verde? O verde também é profundo, um pouco misterioso, um tanto romântico, mas esperançoso demais, comum demais. Vemos verde em tudo, eu jamais seria verde.
Tenho tomado muito tempo pensando em mim mesma, o que é raro para mim. Minha flor favorita sempre foi a margarida. Simples, comum, mas delicada. Sua beleza é apreciada com raridade, independente de sua abundância.
Quando comprei um anel junto com a minha irmã, fiquei com o mais simples, delicado, e ela com o mais arrojado. Todos da família concordaram com a escolha. Disseram que sou elegante, sutil, minha beleza está nos detalhes. Se sou assim, por que me sinto tão avassaladora?
Fato é que quem me tem na vida sabe que sou para sempre. Não esqueço, não desapego, nutro sentimentos positivos por qualquer pessoa que passou por mim. Talvez viva um pouco demais nas memórias.
Sou abundante, com certeza.
Sei que sou rara. Sei que tudo em mim é único. Sei que isso não é apenas bom. Me sinto um rio, necessário, vital, forte, mas frágil. Uma pitada de sal e o rio é completamente desconfigurado. Sua beleza está na sua pureza. Sou pura?
A pureza das pessoas poderia ser nossa capacidade de nos mantermos autênticos independente de interferências e opiniões? Se for assim sou pura, com certeza.
Mesmo lutando pelo amarelo incessantemente, sempre preferi o azul. Difícil de ver, pode parecer com outras cores facilmente. Sempre achei o azul interessante. Há pouco tempo tenho tido coragem para enfrentar o fato de que meu guarda-roupa é todo azul.
Tenho buscado flores azuis. Tenho visto flores azuis e as admirado em sua delicadeza sutil, de algo que é tão pequeno, tão comum, mas tão inusitado. Sempre gostei de pensar nas flores. Como elas surgem, como elas vivem, como estão ali para serem bonitas e efêmeras. Toda flor é mais bonita quando é mais frágil.
O problema das flores azuis é que elas são sempre claras. Quando uma flor é mais escura, já chamamos logo de violeta, como se o índigo não existisse na natureza.
Se gosto tanto de azul, se sou um rio, por que não sou logo água? Gosto de chuva, gosto de mar. Recentemente notei que só me atraio por signos de água. Talvez eu goste do que não tenho?
Veja, sou rio, não sou mar. Não sou forte, apenas levo com minha correnteza. Sou feita de momentos e guiada pela lua, mas não puxo ninguém.
Minha família veio da beira do rio. Talvez por isso eu seja rio e não mar. Minha água é límpida, pode ser consumida. Ainda assim se tem medo de mergulhar. As águas turvas nunca garantem profundidade, segurança. Prefiro manter esse medo. Prefiro que apenas velhos conhecidos saibam que podem mergulhar.
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