ensaio

 O que você prefere: uma última noite perfeita, ou um final tão ruim que te deixa feliz por ter acabado?

Podemos conversar, podemos nos reconciliar, podemos lembrar de tudo que era bom. Posso continuar te procurando, enquanto você continua me perdendo toda vez que lembra da minha falta. Busco pelo que você não foi e lembro de tudo que você era e já não é.

Como seria se fossemos felizes? Será que somos tão superficiais a ponto de saber que nosso final não teria existido se aquele dia fosse bom? Você fala e não ouço mais sua voz. Finalmente minha felicidade realmente te relaxa. Você não faz mais parte de mim.

Filmes e livros insistem na ideia de que existe uma pessoa perfeita para outra. Sabemos que não éramos isso. Sei que você sabe que nossa mídia é uma montagem curta, daquelas que aparecem logo no meio do filme, com uma música agitada qualquer. Não passamos de um episódio de mania.

Somos opostos complementares, sempre, mas só podemos nos sentir inteiros quando separados. Você deixa escapar uma expectativa: “te vejo em três meses”. Você sabe que não vai me ver? Tento te explicar mas também tento me convencer. Te explico que precisamos nos separar, que nossas vidas são inegavelmente melhores distantes.

Será que não vai me ver? 

Não me importa o que você prefere, sabemos qual foi nossa opção. Também não te interessa qual eu prefiro, você também sabe o que eu escolhi. Sim, eu também escolhi. Seremos sempre manipuláveis, sempre referência.

O problema é que hoje sabemos mais sobre astrologia do que quando nos conhecemos. Sabemos o que está acontecendo e sabemos que está acabando. Se tivéssemos feito outra escolha, você sabe que, mais uma vez, não conseguiríamos sair.

Sei que para você não passo de um labirinto. Você busca pelo final mas não sabe que meu centro te engole. Enquanto isso, olho para você tentando decifrar cada microexpressão. Você se perde na minha dúvida enquanto mergulho no seu silêncio. 

Já sabemos tudo um do outro, de novo. A novidade é que não queremos nada em troca.