teatro
Numa tarde qualquer de um dia comum, um casal segue sua rotina. Os dois leves, se olham, se tocam como se não houvesse complicação capaz de separá-los. Se o amor não basta, eles transbordavam o resto. Seguindo sua rotina, o casal vai para o mesmo lugar de sempre, escolhe o restaurante que já conhecem e pedem apenas um prato. Compartilham tudo porque sabem que até seus paladares se complementam. Se os opostos se atraem, eles eram sinônimo de magnetismo.
Enquanto comem, os dois refletem sobre a própria história. Seis anos se passaram e continuam juntos, se complementando. O amor não basta, a atração não basta. No auge da juventude, ser raptado para fora do mercado do amor para viver uma grande odisseia, pode não ser para qualquer um, mas era para eles. Os dois pensavam em como seriam diferentes se não estivessem ali.
Ele: Sem você, não acho que estaria com alguém tão diferente de mim.
Ela: Sem você, acho que estaria com outra mulher.
Os dois listavam as qualidades que procurariam em um parceiro se não estivessem juntos, mesmo continuando. Todas as qualidades eram opostas, tudo que buscariam era facilidade, proximidade. Tinham intimidade, mas não compartilhavam nada. Nessa continuaram por horas. O restaurante fechou, a comida acabou. Não era suficiente, pediram sobremesa.
Uma música toca baixo, as luzes fracas compõem o momento perfeito para um fim. Ele reconhece a música, alguma artista alternativa dessas que ela não tinha muita paciência para ouvir. Suas mentes cheias de dúvidas. Se ficam, se vão. No auge de sua covardia, mais uma vez, ela recorreu ao que conhecia.
Foi ao banheiro, escondendo seus olhos marejados, pensando no final perfeito para o amor perfeito. Encontrou a música que tocava naquele momento, a guardou com carinho para não esquecer. Desesperada e escondida, reduzida à sua insignificância, ela pensava, será que o fim chegou? Será que está próximo? Será esse apenas mais um recomeço?
A verdade é que todo fim é um recomeço, impossível seria separar os dois, algo que ela entenderia em pouco tempo. Ele ali na mesa, esperando o retorno dela. Pensava também no que seria aquilo, para onde iriam duas pessoas que queriam o oposto de seus opostos complementares.
Ela voltou, a sobremesa chegou pouco depois e os dois trocaram de assunto. Conversaram normalmente, levemente, sobre qualquer coisa. Falar de si mesmo já estava doído. O restaurante fechara, as luzes acenderam, já não existia ambiente para aquela intimidade.
Voltaram quietos, com medo do fim do espetáculo que apresentavam para si mesmos.
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