cami

 Quando tinha 11 anos, fui para Campos do Jordão com minha família. Ficamos na colônia de férias do trabalho do meu pai, uma ótima opção para conhecer outras pessoas de 11 anos com relações estranhas com os pais que viajavam demais a trabalho. 


Quando era pequena, meu sonho era ir para Campos do Jordão, não sei dizer o motivo, apenas sei que queria muito. Era frio, era diferente, parecia algo que eu queria ver. Também tinha uma obsessão absurda por nomes anglófonos, especialmente aqueles começados em “e”: Emily, Elizabeth, Evelyn. Já dá para saber onde quero chegar.


Em Campos do Jordão, conheci uma menina linda. Loira, de olhos azuis, da minha idade, mas tão menor que eu, tão delicada. Não sabia na época o que me fazia gostar tanto dela, que se chamava Evelyn. Fiquei obcecada, como sempre fico, nossas mães ficaram amigas, eu passava mais tempo com ela do que com a minha família. 


Quando o final de semana chegou, nossos pais chegaram e foi ali que tentei aprender xadrez pela primeira vez, afinal, ela adorava xadrez. Fiquei traumatizada, a expectativa constante do meu pai para que eu seja genial me paralisou completamente e eu jurei nunca mais tentar jogar aquilo.


Pouco tempo depois, com 13 anos, fui para o acampamento que sempre ia, que não é longe de Campos do Jordão. Lá, conheci uma menina linda, de novo. Ela era francesa, falava com um sotaque que me derretia por dentro. Era neurótica, organizada, coisas que eu jamais seria. Ela era mais velha, tornando meus sentimentos uma mistura de desejo e admiração. 


Dentre tudo sobre ela que me fascinava, amava seu apelido. Eu que sempre fui reduzida a uma só sílaba de um nome que é igualmente comum e estranho, estava obcecada por tanta beleza que precisava de duas sílabas. Todos a chamavam de Cami. Daquele momento em diante decidi que minha filha se chamaria Camila, para ter um apelido tão doce quanto “Cami”. 


Na minha vida conheci apenas duas “Evelyns”, mas muitas “Camilas”. O suficiente para apagar aquela que não valeu conhecer. 


Quando tinha 17 anos, minha melhor amiga se chamava Camila e também usava Cami como apelido. Ela também era doce, delicada, organizada, neurótica. Por ela eu também nutria o mesmo sentimento que nutria pelo nome. 


Aos 23 anos, mudei de terapeuta. Minha psicóloga se chama Camila, e também usa como apelido Cami. Ela já não é tão doce, nem delicada. Parte do meu carinho por ela vem da nossa vontade mútua de não sermos mais doces e delicadas. Na primeira sessão, ela me disse “posso te chamar de Bá?” ao que respondi “nunca me chamam de outra coisa”. Ela por fim completou “também só me chamam de Cami”. Ali ficou estabelecido para mim que nunca mais trocaria de terapeuta. 


Pouco antes dos 25, descobri que Cami não é Camila. Cami é doce, delicada, neurótica, organizada, alguém que sempre vou querer perto. Eu não conheço nenhuma Camila.


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