adeus às armas

Há cinco anos, visitei uma exposição num museu de São Paulo. Um desses que todo mundo vai sempre, nem que seja apenas para tirar foto e marcar presença em mais um ponto turístico da cidade. Estava acompanhada.


Não consigo lembrar ao certo qual era o tema da exposição, mas lembro muito bem de um escrito na parede. Era um trecho de uma obra qualquer de Hemingway. Ele então me disse que adora o autor. Foi suficiente para garantir presentes de natal e aniversário pelos próximos cinco anos. Livros do Hemingway, livros de autores da mesma onda, tudo sempre buscando voltar àquela lembrança.


Aquilo se tornou muito maior do que qualquer um desejaria. Saindo da exposição, mantivemos a rotina de qualquer jovem paulistano e fomos no segundo ponto obrigatório. No meio daquela livraria simbólica de tudo que era a maior avenida da cidade, lembro-me perfeitamente das palavras que me foram sussurradas. Sentados num banco, olhando DVDs que já eram obsoletos, ouvi um pequeno “casa comigo”. 


Não fiquei surpresa, embora tenha ficado sem reação. Já esperava algo assim, mesmo que soubesse que não passaria de uma ideia. Afinal, eu sabia que ele jamais quereria se casar. Há cinco anos, a promessa fazia sentido mesmo que sem esperança de se realizar.


Ontem, visitei o mesmo museu, a convite de alguém completamente novo. Fiquei relutante, a princípio, por me lembrar demais do passado. A pele, o sorriso, até mesmo a altura. Tudo foi parecido. O museu continua com o mesmo ar hostil demais para conversas. Poucas informações são trocadas apenas com sussurros. Nossos gostos eram completamente diferentes, assim como da outra vez.


Algumas coisas, entretanto, precisam mudar. O cigarro acendido ao sair do espaço fechado, a livraria que não está mais lá, a ausência completa de um lugar para perambular falando besteiras sobre referências culturais de qualidade duvidosa. O que está obsoleto talvez seja a forma de descobrir pessoas novas. 


Hoje, cinco anos depois, não precisamos mais de distrações. Uma mesa de bar e uma quantidade infinita de cervejas basta para falar por horas até se perder no conto de fadas moderno que é a finitude do transporte público. Já não sei mais onde está aquele, que um dia quis se casar. 


Essa semelhança toda que me assustou antes mesmo de conhecer alguém novo se manteve. Tudo era parecido, tirando aquilo que era completamente diferente. Existem pessoas que te fazem sentir completamente controlada, que parecem nunca perder a razão. Existem também aquelas que parecem sempre estar à beira de serem tomadas completamente por um sentimento só. Tudo escalona rápido demais. Essas pessoas te fazem sentir como se não tivesse ninguém no controle, e vocês dois estão correndo juntos, descontrolados, em direção ao abismo.


Agora eu aprendi minha lição. Quem quis pular não fui eu e continuo não querendo. Mas hoje sei que sou eternamente fascinada pela inconsequência dessas pessoas.


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