poesia

 Muito se fala sobre o medo de ser rejeitada, mas e o medo de rejeitar? Na minha vida, nunca disse não. Aprendi cedo que eu não tinha direito ao não. 


Todas as conversas que já tive, sempre fiz questão de mandar a última mensagem. Admito que tenho toda a sede de poder para querer ter a última palavra, mas também tenho pavor de deixar alguém sem resposta. Quando percebo que finalmente falei ao vento, que ninguém me escutou ou, se escutou, não tem mais resposta, sinto um alívio inexplicável, como se meu trabalho estivesse completo. Entreguei para esta pessoa todo o acolhimento que ela desejava e correspondi todas as suas emoções da melhor forma que consegui, agora finalmente posso voltar à minha solidão.


Em todos os meus empregos, fui demitida, mesmo que tenha decidido sair logo antes da demissão. Acredito que tenha um talento para fazer o outro não me querer logo quando eu descubro que também não o quero mais.


Por muito tempo duvidei que esse meu talento pudesse chegar aos meus amores, sempre tantos. Recentemente descobri que o fim realmente existe, e talvez seja eterno. Minhas expectativas foram todas atendidas, mais uma vez, sem eu ter que mover um dedo. 


Não precisei me indispor, pude sair como vítima total de uma situação que eu mesma desejei. Perguntei se já havia pensado em outra enquanto estava comigo e ele disse que não. Senti um alívio estúpido por saber que não poderia retribuir a cortesia. Disse que ele me trocou, me traiu, mas antes mesmo de qualquer sinal do fim eu já estava me doando a outros.


Passado o amor, vem a nova paixão, que também não é avassaladora e que também não me consome. Sinto um alívio estranho quando ouço que não sou única nem especial. Não me sinto capaz de ser especial para alguém, não agora. 


Questiono todos os meus sentimentos, me varro por dentro, apenas para cair no mesmo abismo: “será que sei amar?”. Será que em algum momento senti algo se por tanto tempo pude fingir tão bem? Ele dizia que se preocupava comigo, por ficar tão mal, por amar tanto. A realidade é que meu choro vem como o de uma criança mimada, que apenas não quer admitir que perdeu o que nem queria. Nunca amei demais, talvez sequer tenha amado, mas sempre me preocupei o suficiente para fingir. Meu medo de magoar sempre me permitiu ser magoada.


Fico num dilema entre ser poeta que não aprendeu a amar e achar que todos são mais sentimentais que eu, assim posso sofrer mais. Meu anseio pelo sentimento puro e irracional me leva a uma mutilação interna completamente destrutiva. Enquanto não amo, choro, grito, desmaio, declaro aos quatro cantos sentimentos intensos que simplesmente não me tocam. Ciente da minha deficiência, me contento com o sentimento que desperto nos outros.


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